sexta-feira, 13 de novembro de 2015

BONITINHA, MAS ORDINÁRIA

Título Original: Bonitinha, Mas Ordinária
Diretor: J.P. de Carvalho
Ano: 1963
País de Origem: Brasil
Duração: 106min

Sinopse: Um industrial oferece dinheiro a um de seus empregados para que ele se case com sua filha de 17 anos, vítima de uma curra. O rapaz, indeciso entre o enriquecimento fácil e a fidelidade aos seus sentimentos por uma jovem de sua classe social, a qual será envolvida pelo mundo inescrupuloso dos ricaços, desmascara a ingenuidade da menina oferecida.

Comentário: Tenho um amigo que sempre diz que todas as respostas para a vida estão no filme Magnólia, bem, não discordo dele, mas eu sempre digo que todas as respostas para a sociedade brasileira estão no Bonitinha, Mas Ordinária e quero ver quem vai discordar de mim. Cinismo, ganância, opressão social, elitismo, machismo, racismo e eu posso ficar aqui colocando adjetivos a noite inteira. Não conhecia essa versão de 1963 e gostei muito, Odete Lara (que nos deixou neste ano de 2015) é de longe a melhor Ritinha de todas as versões e coloca a Vera Fischer no chinelo, portanto esta versão tem coisas melhores e piores com relação a seu remake de 1981 (a versão mais recente eu nem tenho vontade de ver). Jece Valadão atuou, produziu e escreveu o roteiro, parece ter se entregado bastante ao filme com uma atuação que não achei ótima, nem ruim, mas competente. Nelson Rodrigues é mestre, mas quem me conhece sabe que sou suspeitíssimo pra falar, pois adoro esta obra dele, só não dou nota máxima porque teve algumas interpretações forçadas como a da Lia Rossi que não me convenceram.


POLLYANNA

Título Original: Pollyanna
Diretor: David Swift
Ano: 1960
País de Origem: EUA
Duração: 134min

Sinopse: Em uma pequena cidade dos Estados Unidos, você descobrirá Pollyana, uma pequena órfã que ilumina a vida de todos que a conhecem, mas que é intimidada por sua tia, preocupada com aparências, política e posses, que parece ter problemas em aceitar a alegria da sobrinha.

Comentário: Me lembro que passaram este filme enquanto cursava a sétima série na escola, não dei bola e realmente acho que não é um filme para esta faixa etária, quando se é um adolescente rebelde. Hoje, assistindo de novo, pude perceber muitas coisas no filme que são cruciais para o mundo de hoje. Karl Malden simplesmente perfeito no papel do reverendo e sua sequência com Pollyanna é uma das melhores de todo o filme. Hayley Mills mostra que tinha talento de berço (afinal é filha do ator John Mills e da escritora Mary Hayley Bell) e já tinha me conquistado quando interpretou a protagonista no filme O Vento Também Tem Segredos, que foi baseado em um livro de sua mãe. O filme mostra o que a sociedade está precisando nos dias de hoje, mais senso de pensar no coletivo, de nos importamos com o outro, de buscarmos no outro o que ele tem de bom e não o contrário. Curiosidade: o ator Kevin Corcoran, que também interpretou o filho mais novo no A Cidadela dos Robinsons (e o mais novo do elenco em Pollyanna que interpreta o orfão Jimmy Bean) faleceu no mês passado (Outubro/2015), foram os dois últimos filmes que postei no blog de 1960, entre uma postagem e outra ele ainda estava vivo. O pai da atriz Pollyanna na vida real era o pai de Kevin Corcoran no filme A Cidadela dos Robinsons.


quarta-feira, 28 de outubro de 2015

AS MÃOS SOBRE A CIDADE

Título Original: Le Mani Sulla Città
Diretor: Francesco Rosi
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração; 101min

Sinopse: O desabamento de um edifício num bairro pobre de Nápoles que deixa vários feridos é o grande estopim para o início de uma ação investigativa que pretende desvendar atividades ilícitas dentro do poder público. A situação torna-se ainda mais grave, quando vem à tona que o acionista majoritário da empresa construtora contratada para desenvolver as obras que desencadearam o desabamento é o também vereador Edoardo Nottola, que é acusado de especulação imobiliária envolvendo a compra de terras públicas concedidas ilegalmente pela prefeitura.

Comentário: "...na vida política, indignação moral é uma mercadoria sem valor. Você sabe qual é o único pecado? Perder." E assim podemos ter uma ideia de como o filme é atual se compararmos com a maneira que se faz política no Brasil. A Itália de 1963 é o Brasil de 2015, uma pena, durante o filme pude ver tantos personagens que estavam representando os nossos políticos. Tem Aécio, Cunha, Renan e toda a cambada. Depois de não ter curtido muito o último filme do diretor que havia assistido (O Bandido Giuliano), este aqui foi realmente muito bom e superou todas as minhas expectativas. A especulação imobiliária parece ser um tema recorrente na Itália nesta época, em 1957 o escritor Italo Calvino publicou um livro que abordava este assunto, com este filme podemos ver como as coisas são feitas e como os políticos brasileiros fazem suas maracutaias.


O PRANTO DE UM ÍDOLO

Título Original: This Sporting Life
Diretor: Lindsay Anderson
Ano: 1963
País de Origem: Inglaterra
Duração: 134min

Sinopse: Numa partida de rugby, um jogador é duramente atingido e perde vários dentes. Numa sucessão de flashbacks, a trajetória da sua vida é mostrada, desde quando ainda era mineiro de carvão e sonhava tornar-se um profissional deste esporte. Ele consegue atingir o seu objetivo e é considerado um bom jogador, apesar de bruto e arrogante. Alcança algum sucesso financeiro e envolve-se com a viúva de quem é inquilino, mas é assediado por outras pessoas...

Comentário: Ótimo filme de Lindsay Anderson, direção sempre competente desse que é um dos maiores diretores que a Inglaterra já teve. Richard Harris, talvez em sua melhor interpretação da vida, consegue mostrar que não devia em nada para o Marlon Brando. A história é muito boa e em vários momentos lembrava um livro do John Fante, porque você consegue amar e odiar todos os personagens em diferentes momentos. Só achei que ficaram pontas soltas demais como um todo, o personagem do William Hartnell foi muito mal aproveitado. Falando em William Hartnell, foi devido ao papel dele neste filme que foi convidado para ser o primeiro Doctor Who, os executivos da série acharam que ele caia como uma luva no papel do Doutor, mas ele estava com o pé atrás para fazer a série, mas acabou sendo convencido e virou o ícone que é hoje.


terça-feira, 20 de outubro de 2015

O CARRASCO

Título Original: El Verdugo
Diretor: Luis García Berlanga
Ano: 1963
País de Origem: Espanha
Duração: 87min

Sinopse: Um agente funerário se casou com a filha de um velho carrasco e, embora ele não goste muito disto, deve continuar a profissão de seu sogro depois de sua aposentadoria se quiser manter o apartamento de sua nova família.

Comentário: O filme é bem interessante, consegue misturar drama, crítica social, humor negro e romance, tudo em um filme só. José Isbert (que também brilhou na atuação de O Carrinho) mais uma vez roubando a cena sempre que aparece, o talento de Nino Manfredi fica um pouco ofuscado pelo velho veterano do cinema espanhol. Interessante a discussão sobre como as pessoas veem outras que trabalham com a morte, existe um preconceito, um ar de mistério, pois a sociedade ocidental tenta não pensar muito na morte, tenta ignorá-la e o filme acaba tratando muito sobre isto nas entrelinhas. Um ótimo filme espanhol com uma ótima direção.


DEMÊNCIA 13

Título Original: Dementia 13
Diretor: Francis Ford Coppola
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 75min

Sinopse: O casal Haloran, Richard (Campbell) e Louise (Anders), ao lado dos filhos, cumprem, anualmente, um sinistro ritual: o de celebrar, na Irlanda, a memória de Kethleen (Dowling), a filha que, há 29 anos, morreu tragicamente. Naquele ano, no entanto, um assassino está à solta nas imediações do Castelo Haloran, levando a cabo uma terrível carnificina. 

Comentário: Primeiro longa do diretor Francis Ford Coppola, que estava trabalhando no set do filme Desafiando a Morte do diretor Roger Corman, que resolveu produzir este filme deixando Coppola usar a mesma equipe e alguns atores do seu filme, com a condição de que não atrapalhasse nas filmagens do seu. O filme tem seus momentos, mas está longe de ser uma obra prima como vários outros do diretor, na verdade o filme tem uma enorme carga de estilo do próprio Roger Corman. Há ótimas cenas, mas o filme não é constante, consegue surpreender em vários momentos, mas cair no clichê em vários outros. Acima da média, consegue divertir e cumprir bem o seu papel, a cena inicial é maravilhosa, porém o desfecho rápido deixa a desejar. O filme ia chamar Demência, porém o nome já havia sido utilizado em um filme de 1955, então Coppola decidiu acrescentar o 13 sem motivo aparente. Um trabalho um pouco amador de começo de carreira de um dos maiores diretores de todos os tempos, esperava mais, mas vale a conferida.


sexta-feira, 16 de outubro de 2015

A VERDADEIRA HISTÓRIA DO BARBA AZUL

Título Original: Landru
Diretor: Claude Chabrol
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 114min

Sinopse: Filme baseado na história real de Henri Désiré Landru (1869-1922), conhecido como "Barba Azul", parisiense pai de quatro filhos que, durante a primeira guerra mundial, para sustentar sua numerosa família, seduzia, furtava e matava viúvas, que atraía por meio de anúncios românticos publicados em jornais. Entre 1914 e 1918, Landru eliminou 11 vítimas: 10 mulheres e o filho adolescente de uma delas.

Comentário: É o quarto filme que assisto de Chabrol e me pareceu um ponto fora da curva, pelo menos no que diz respeito ao estilo de narrativa do diretor. O filme em si é legal, mantém o nível de vários outros filmes do diretor, mas ainda prefiro o Entre Amigas entre todos os outros. Talvez por ser o primeiro filme colorido dele, teve horas que senti falta da direção em preto e branco que ele faz tão bem, mas há cenas maravilhosas. A narrativa do filme deixa a desejar, muitos entraves, muitas sutilezas pra um filme sanguinário, apesar de ser lindo as imagens estáticas de sorrisos durante os assassinatos, me pareceu que ficou faltando algo. Charles Denner está perfeito no papel de Landru, consegue segurar o filme quando se arrasta no ritmo, a música de Pierre Jansen também ajuda bastante.


A VIDA ÍNTIMA DE SUAS EXCELÊNCIAS

Título Original: Gli Onorevoli
Diretor: Sergio Corbucci
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 98min

Sinopse: Comédia satírica sobre as eleições para o parlamento italiano. Bianca Sereni (Franca Valeri) é uma ex-prostituta, Antonio La Trippa (Totò) é um ex-trompetista do exército, Giuseppe Mollica (Peppino De Filippo) é um fascista do antigo regime, Rossani Braschi (Gino Cervi) é um senador sem valores e Saverio Fallopponi (Aroldo Tieri) é um comunista que se vende fácil. Todos querem uma vaga no parlamento italiano.

Comentário: Um filme despretensioso, com um ótimo elenco que segura muito bem o filme. Poderia ser bem melhor e o final é bem decepcionante, mas tem cenas ótimas. Totò está nas cenas mais engraçadas de todo o filme, impressionante como ele consegue ser o personagem que inspira mais simpatia entre todos. Uma cena bizarra conta com a participação de Pelé apoiando um dos candidatos. Os personagens poderiam se entrecruzar mais, daria mais ritmo ao filme, mas isso não acontece. É um filme de cenas engraçadas, tiradas boas, mas que não se mantém no mesmo ritmo até o final.


segunda-feira, 5 de outubro de 2015

A PANTERA COR-DE-ROSA

Título Original: The Pink Panther
Diretor: Blake Edwards
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 110min

Sinopse: O hilariante Inspetor Clouseau (Peter Sellers), da polícia de Paris, precisa encontrar um ladrão de jóias que está mais perto do que ele imagina: o perigoso assaltante é amante de sua esposa, sem que ele nada perceba.

Comentário: Primeiro filme de uma série de outros realizado pela dupla Blake Edwards e Peter Sellers. O filme é bem divertido, mas vai ficando mais engraçado conforme as coisas vão acontecendo até o desfecho, a sutileza das cenas de Sellers é o que dão todo o tom do filme. O que chama a atenção é que o personagem de Sellers não seja o protagonista e sim o vilão interpretado por David Niven. O desfecho é completamente inesperado, mas tem alguns pontos que ficam muito em aberto e decepciona um pouco. O personagem animado foi criado para a introdução do filme e ganhou uma série animada infantil que foi um tremendo sucesso no ano seguinte. Claudia Cardinale e Capucine estão deslumbrantes, nada de novo isso. Disseram que a sequência (Um Tiro no Escuro) é melhor, mas ainda não assisti. Talvez o filme tenha ficado um pouco datado, mas ainda consegue divertir quando o Sellers entra em cena.


ALGUMA COISA DE OUTRO

Título Original: O Něčem Jiném
Diretora: Vera Chytilová
Ano: 1963
País de Origem: Checoslováquia
Duração: 80min

Sinopse: Num estilo documental, acompanhamos o extenuante treinamento da ginasta e medalhista olímpica Eva Bosáková para a última competição de sua carreira esportiva. Em contrapartida, há o drama da dona de casa Vera, casada com um homem que a ignora e mãe de um filho que ocupa todo seu tempo e esgota suas energias e paciência. Ambas parecem ansiar por algo mais, algo diferente.

Comentário: Depois do media metragem Saco de Pulgas, temos aqui o primeiro longa de Vera Chytilová. Confesso que demorou pro filme conseguir me fisgar, as alternâncias entre as duas personagens parece cansar no começo, mas logo passou esta primeira impressão de estranheza o filme conseguiu me prender muito bem. Interessante ver a campeã olímpica Eva Bosáková interpretando uma personagem que acaba sendo ela mesma. A parte técnica do filme é simplesmente fantástica, algumas tomadas são geniais, e quando você acha que já viu de tudo, teve uma virada de câmera que me tirou o fôlego. Excelente trilha sonora.


sábado, 3 de outubro de 2015

13 ASSASSINOS

Título Original: Jûsan-Nin No Shikaku
Diretor: Eiichi Kudô
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 120min

Sinopse: Nos tempos do Japão feudal, um homem assassina e estupra inocentes, e ao mesmo tempo é protegido pela lei por ser irmão do Xogum. Para impedi-lo surge a força secreta dos misteriosos 13 assassinos, cada um com uma habilidade singular, dispostos a uma missão suicida para acabar com o mal.

Comentário: Não assisti ao remake de 2010 dirigido pelo Takashi Miike, portanto não farei comparações. Achei o começo muito confuso, você se perde um pouco no que está acontecendo, é só na metade do filme que consegui realmente me envolver e a história conseguiu me prender no que está acontecendo. Os personagens não são bem trabalhados, são 13 samurais e alguns poucos tem algum destaque, e mesmo os destaques que alguns têm são bem pequenos. A história é muito interessante e aborda temas muito atuais, pois nem sempre as leis favorecem os inocentes, tem como ser mais atual que isto? Acho que o filme poderia ser bem melhor do que ele é, mas não tem como negar que o filme fica muito melhor da metade pro final e tem um ótimo desfecho.

UMA VOZ NAS SOMBRAS

Título Original: Lilies On The Field
Diretor: Ralph Nelson
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 94min

Sinopse: Homer Smith (Sidney Poitier) é um operário desempregado, que trabalha em construções. Ele pára seu carro em uma remota fazenda, devido ao superaquecimento do motor. Na propriedade rural moram freiras católicas do leste europeu. Maria (Lilia Skala), a madre superiora, acredita que ele foi mandado por Deus para ajudá-las a construir uma igreja naquela região. Apesar disto não estar em seus planos, Homer se propõe a fazer pequenas tarefas, mas gradativamente começa a ser envolvido pelas religiosas.

Comentário: Não se deixem enganar pelo pôster tosco do filme, pois é um ótimo filme, despretensioso e simples como o excelente filme anterior do diretor (Réquiem para um Lutador). A direção de Nelson é simples, sem nada elaborado, ele tenta retratar as coisas como elas realmente são e é esta simplicidade que dá o tom para o filme, a música de Jerry Goldsmith é a cereja no bolo. Gostei muito, porque pelo menos pra mim, não foi um filme que fale de racismo com o Poitier, e fico pensando como devia ser difícil pra um ator negro nesta época conseguir um papel sem ter que cair no assunto (ele atua em um papel que poderia ser de qualquer ator branco, por exemplo), mas sem o Poitier no papel o filme não seria o mesmo. O Oscar dado para ele no filme é uma faca de dois gumes: primeiro, porque não foi o melhor papel em que ele atuou (em O Sol Tornará a Brilhar ele estava bem melhor e merecia o Oscar naquela ocasião), segundo, por ser um filme em que ele atue e não tenha um foco no assunto racismo (então, dando um Oscar neste filme a Academia poderia fingir que o racismo não existia e a consciência ficava tranquila). O fato é que considero o Oscar dele uma quebra importante do tabu de só premiar atores brancos (Que praticamente existe até hoje), mas não deixou de ser um Oscar por toda sua obra que é magnífica. Mais um exemplo de péssima tradução de títulos para o português.


quarta-feira, 30 de setembro de 2015

A VISITA

Título Original: La Visita
Diretor: Antonio Pietrangeli
Ano: 1964
País de Origem: Itália
Duração: 106min

Sinopse: Pina e Adolfo, dois solitários que se conheceram pelos classificados de um jornal, encontram-se, nutrindo a esperança de que a amizade se transforme em amor. As diferenças são extremas. Mentiras, falsidades, traições, tantos artifícios surgem para tentar ocultar a incompatibilidade. O findar do dia não escapará do trágico, e sufocados por suas próprias individualidades terão de aprender a lidar com essa nova dor.

Comentário: Estreando prematuramente os filmes de 1964, pois assisti pensando que era de 1963. Pietrangeli vem desde 1960 fazendo um filme melhor do que o outro, este é o meu preferido dos três que já assisti. Um filme completamente despretensioso e  que tem como o tema central a solidão, a percepção da dor de se sentir sozinho nunca foi trabalhada de uma maneira tão descompromissada e tão real. Sandra Milo está apaixonante no filme, queria abraçá-la, confortá-la e dizer que ela não é a única que se sente assim no mundo. François Périer, no entanto, dá vontade de dar um murro na cara dele, consegue ser um nojento, mas que surpreende em seus momentos. A música de Armando Trovajoli é perfeita e a parte técnica tem seus belos momentos. Mistura de drama, comédia e romance.


A PADEIRA DO BAIRRO

Título Original: La Boulangère de Monceau
Diretor: Eric Rohmer
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 23min

Sinopse: Um jovem estudante (Barbet Schroeder) sente-se atraído por uma garota que vê todos os dias na rua, apesar de jamais ter falado com ela. Quando ele enfim toma coragem de se aproximar, a garota desaparece. Durante várias manhãs ele faz plantão no local, na esperança de vê-la novamente. Enquanto espera ele passa a frequentar uma padaria, onde acaba conhecendo uma jovem atendente.

Comentário: Primeiro filme de uma série de seis em que o diretor intitulou como Seis Contos Morais. O grande problema do média metragem (pelas definições do Brasil, no cenário americano seria um curta) é que poderia ter muito mais minutos, a direção e a narrativa são ótimas e você fica querendo mais. "Quem Nunca Foi a Padeira do Bairro na Vida de Alguém?", este comentário da Letícia Couto no Filmow resume tudo o que o filme nos passa, em poucos minutos o diretor consegue uma carga emocional enorme sobre várias questões da vida de qualquer pessoa, o que torna este pequeno grande filme em uma peça única da sétima arte.


segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A CIDADELA DOS ROBINSONS

Título Original: Swiss Family Robinson
Diretor: Ken Annakin
Ano: 1960
País de Origem: EUA
Duração: 122min

Sinopse: Baseado na clássica obra literária do escritor Johann Wyss, leva-nos para as paisagens maravilhosas dos mares do sul, cheias de animais exóticos e piratas traidores. Esta aventura conta as corajosas proezas da família Robinson após o navio onde viajavam naufragar e irem parar em uma ilha deserta. Trabalhando em equipe, eles conseguem ultrapassar os obstáculos da natureza e transformar a sua nova casa numa comunidade 'civilizada'. Mas o último desafio aparece quando um bando de assassinos piratas ameaçam destruir o paraíso provisório deles.

Comentário: Um filme família típico dos Estúdios Disney desta época, com a competente direção de Ken Annakin (responsável pela direção da parte dos britânicos do sensacional O Mais Longo dos Dias) e um elenco cativante (tirando o Francis Robinson, claro, moleque chato pra caralho) é diversão mais do que garantida. Parece que os filmes de aventura deram lugar aos filmes de ação, parece faltar filmes deste gênero para a molecada de hoje em dia. O que me incomodou muito no filme é a visão machista que esses filmes família obrigatoriamente acabam tendo, enquanto os meninos se divertem na lagoa a mãe apenas observa tudo com muita roupa, ridículo, não me espanta essa visão enraizada na nossa sociedade, afinal nossos pais e muitos de nós mesmos crescemos assistindo essas mensagens escondidas (Chega ao cúmulo de no filma a mãe não ter nem um nome, todos tem nomes, a personagem dela está creditada apenas como Mãe Robinson). Apesar do filme ter cenas completamente absurdas e sem cabimento, é preciso lembrar sempre que é um filme descompromissado, pra outro tipo de público e consegue cumprir muito bem seu objetivo de puro entretenimento. Janet Munro, que faz o papel da Roberta, está linda no filme, muito triste ter morrido com apenas 38 anos de idade.

QUEM AMA, PERDOA

Título Original: À Tout Prendre
Diretor: Claude Jutra
Ano: 1963
País de Origem: Canadá
Duração: 100min

Sinopse: Primeiro longa metragem ficcional de Claude Jutra, o filme é um ícone da geração de artistas e intelectuais franco-canadenses que viveram as transformações culturais e políticas dos anos 60 no Canadá. Claude é um cineasta em crise política, amorosa e identitária que se apaixona por uma cantora haitiana, Johanne.

Comentário: O filme estava indo muito bem até sua metade, daí acho que o diretor se perdeu, o ritmo se arrastou, ficou cansativo, sempre com uma direção muito boa, mas no geral não achei tudo isso. O personagem principal é um cineasta com o mesmo nome do diretor, o que faz a gente ficar pensando o quanto dele o personagem realmente tem. O Claude (do filme) é um grande filho da puta, não consegui me identificar ou sentir nenhum tipo de empatia pelo personagem, fico pensando se todo esse nível de egoísmo egocêntrico não tenha sido um dos fatores do suicídio do Claude (na vida real). O filme tem uma aparição relâmpago do François Truffaut, que com certeza influenciou muito essa nouvelle vague canadense que estava surgindo. Johanne Harelle, que interpreta uma personagem que também se chama Johanne (ela mesma?) está ótima, consegue roubar as cenas, juntando ela e a direção é o que faz o filme valer a pena.


sexta-feira, 25 de setembro de 2015

TOTÒSEXY

Título Original: Totòsexy
Diretor: Mario Amendola
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 86min

Sinopse: Continuação do filme Totò Na Noite que aborda as aventuras de dois contrabaixistas que viajam por vários países à procura do sucesso, mas que acabam na cadeia.

Comentário: Como a própria sinopse já diz, é uma continuação do filme Totò na Noite, mas é muito inferior ao primeiro, não trás nada de novo, é quase uma cópia do primeiro, mas de um jeito bem meia boca. As partes musicais do primeiro foram bem melhores (Tirando a cena com a dançarina Dodo D'Amburg neste aqui) do que este, a própria história é mal desenvolvida, ficam batendo na mesma tecla sem parar, cheio de clichês. Uma sequência completamente desnecessária, mesmo porque o primeiro filme é bem regular, nada demais, há filmes muito melhores com o Totò pra assistir do que estes dois. Tirando uma ou duas cenas o filme é sofrível, parecia que eu tava vendo o primeiro filme em uma versão piorada.


DEU A LOUCA NO MUNDO

Título Original: It's a Mad, Mad, Mad, Mad World
Diretor: Stanley Kramer
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 159min

Sinopse: Depois de cumprir 15 anos atrás das grades, ladrão vai procurar os US$ 350 mil que roubou de um banco e deixou escondido, a caminho do dinheiro ele sofre um acidente e, antes de morrer, dá apenas pistas de onde estão os dólares, a partir de então várias pessoas saem desesperados para encontrar a fortuna.

Comentário:  É uma boa comédia, mas depois de um tempo fica um pouco cansativa, martela demais na mesma piada, nas mesmas situações, mas não deixa de ter momentos brilhantes com alguns personagens. Ao longo de todo filme várias celebridades fazem pontas, temos que ficar atento para não perdê-las em cena: Jerry Lewis, Buster Keaton, Os Três Patetas, entre muitos outros. O filme tem uma das melhores sequências de dança da história do cinema, em uma participação mais que especial de Barrie Chase, famosa como par de dança de Fred Astaire. Quem também está linda no filme é Madlyn Rhue, conhecida dos trekkers por ser o interesse romântico de Khan no episódio Space Seed da série clássica. O elenco principal está muito bem, parece que houve uma boa química entre eles, mas a direção de Kramer, apesar de se segurar muito bem na maior parte do filme, tem alguns erros de continuidade gritantes (muito evidente na cena da escada do bombeiro). O filme poderia ser mais curto, porém existe uma versão estendida com 192min, mas sinceramente não sei o que mais eles poderiam colocar no filme. O desfecho podia ser melhor, mas diverte, foge completamente dos padrões de todos os filmes que havia assistido do diretor. Aquele filme Tá Todo Mundo Louco de 2001 é descaradamente baseado neste, mas por incrível que pareça este filme não foi creditado no roteiro da nova versão.


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

LUZ DE INVERNO

Título Original: Nattvardsgästerna
Diretor: Ingmar Bergman
Ano: 1963
País de Origem: Suécia
Duração: 81min

Sinopse: Após ler nos jornais que a China possuí a bomba atômica e pretende usá-la, um pescador vai à igreja, buscando palavras de conforto e consolo do pastor. Porém, este não consegue ajudá-lo porque está passando por uma crise de fé, temendo também o apocalipse nuclear.

Comentário: Mais uma obra prima de Bergman onde a fé, a solidão, a procura incessante pela paz interior e no conforto do calor humano nos faz refletir sobre nós mesmos. É o segundo filme da "Trilogia do Silêncio", mas mesmo tendo preferido o Através de um Espelho, este é muito bom, porém de um ritmo difícil, complexo, intrincado, que pode parecer chato pro telespectador acostumado com filmes blockbusters. Tem horas que cai em uma melancolia, tem horas que nos instiga e tem horas que aborrece. O filme é uma crítica a religião e a falta dela, não trás respostas prontas e deixa tudo para o telespectador refletir, mas mais do que o tom religioso é um filme sobre as aflições de seres humanos se relacionando com outros seres humanos. O diálogo sobre a Paixão de Cristo é um dos melhores já escritos pelo Bergman e a cena em que a atriz Ingrid Thulin lê sua carta é uma das mais belas em todo o filme. Sufocante e instigante, um autêntico Bergman em sua melhor fase.


DOIS TEMPOS NO INFERNO

Título Original: Két Félidö a Pokolban
Diretor: Zoltán Fábri
Ano: 1963
País de Origem: Hungria
Duração: 119min

Sinopse: Para o aniversário de Hitler, os alemães decidem organizar uma partida de futebol contra os prisioneiros húngaros durante a Segunda Guerra Mundial. Eles determinam que Ónodi (Dió), um famoso jogar de futebol, organize o time. Ónodi por sua vez exige comida, uma bola e dispensa do trabalho para treinar. Porém, ele é convencido pelo time a fugir, assim que encontrem uma oportunidade.

Comentário: Guerra e futebol, estreando os filmes da Hungria no blog em grande estilo, pois é um baita filme. O filme usa como base a Partida da Morte, um jogo de futebol, com várias versões sobre o que realmente aconteceu, que teria ocorrido na Rússia em 9 de agosto de 1942, porém todo o filme é fictício, personagens, acontecimentos, só usaram a ideia de um fato real, então não confundam o filme com a história de fato. Os personagens são excelentes, todos muito bem trabalhados com ótimos momentos em tela, a direção é ótima, música bem conduzida e o final é arrebatador. Um dos melhores filmes do ano com certeza, recomendo muito.


segunda-feira, 21 de setembro de 2015

55 DIAS EM PEQUIM

Título Original: 55 Days at Peking
Diretor: Nicholas Ray
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 162min

Sinopse: Um pequeno grupo de estrangeiros se vê encurralado no interior da Cidade Proibida de Pequim, cercados por milhares de fanáticos chineses, durante a revolta dos Boxers. A coragem e liderança de um marinheiro americano e do Embaixador inglês são a única esperança contra o perigo intransponível, enquanto uma linda condessa russa deve optar entre a liberdade e o compromisso. 

Comentário: A parte técnica do filme é impecável: direção, música, figurino, atuações, iluminação... enfim, foi mais por isso que não dei uma nota mais baixa, mas não tem como fingir que não é uma superprodução Hollywoodiana, onde tentam colocar como heróis os vilões e vice-versa. Os fatos históricos em si estão todos alterados, as decisões do embaixador da Inglaterra (David Niven) beiram ao patético e a relação entre sua esposa é enfadonha como todo o resto de comparação história com os fatos inventados para a película. Se pararmos pra pensar, podemos ver aqui os Estados Unidos metendo o nariz onde não é chamado desde o começo do século XX, não mudaram nada em mais de cem anos. Ava Gardner ainda esbanja beleza e sensualidade com seus mais de quarenta anos. Charlton Heston esbanjando canastrice e cai como uma luva no papel.


O CHICOTE E O CORPO

Título Original: La Frusta e Il Corpo
Diretor: Mario Bava
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 87min

Sinopse: No século XIX, um nobre sádico aterroriza os membros de sua família. Ele é encontrado morto, mas seu fantasma retorna para assombrar os residentes de seu castelo...

Comentário: Tinha tudo pra ser o melhor filme do Bava, mas houve vários deslizes. Há alguns problemas técnicos, como o som do vento com as árvores paradas, mas isto da pra ignorar, a música é ótima, mas se torna tão repetitiva que começa a encher o saco já na metade do filme e alguns furos no roteiro que não colocarei aqui se não vou dar spoilers atrapalham um pouco a lógica do desfecho. O que chama a atenção no filme é a construção psicológica dos personagens, é ótima, cada personagem tem uma carga dramática muito bem construído (mesmo os criados que poderiam ter tido um destaque melhor), gostei muito de todas as interpretações. A iluminação de algumas cenas é simplesmente genial, Bava mostrando que tinha talento de sobra.


sábado, 19 de setembro de 2015

JUDEX

Título Original: Judex
Diretor: Georges Franju
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 97min

Sinopse: Favraux, banqueiro inescrupuloso, recebe um dia uma misteriosa mensagem assinada por "Judex", ameaçando-o caso não reembolse aqueles a quem lesou com transações fraudulentas. Favraux ignora a ameaça. Mas à exata hora contida na carta (meia-noite), no dia do noivado de sua filha Jacqueline, o banqueiro cai morto, fulminado...

Comentário: Refilmagem do clássico de 1916 dirigido por Louis Feuillade, não assisti ao original, mas Franju mostra aqui toda a sua paixão pelo começo do cinema, não é a toa que foi responsável pelo resgate da obra de Méliès. O filme tem esse clima de filme clássico, chega a ser um pouco inocente demais, mas é simplesmente de tirar o fôlego, perde um pouco o ritmo na metade, mas tem todo o clima dos antigos Pulps que publicavam histórias de heróis como O Sombra e Doc Savage. A direção é magnífica e a música de Maurice Jarre completa a perfeição do filme. Nostalgia total, não tente assistir ao filme com os olhos de hoje em dia, na verdade talvez não seja nem legal assistir ao filme com os olhos dos anos sessenta, ele remete a uma época mais antiga ainda. Francine Bergé consegue aqui ser uma das vilãs mais sexy da história do cinema.


ADEUS, AMOR

Título Original: Bye Bye Birdie
Direção: George Sidney
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 111min

Sinopse: Quando o astro do rock e paixão das adolescentes Conrad Birdie é recrutado, as garotas do país vão à loucura e o compositor de Conrad, Albert (Dick Van Dyke), fica desempregado. Assim, Albert e sua namorada (Janet Leigh) organizam um concurso nacional no qual uma felizarda ganhará um beijo de adeus de Conrad no programa de TV de Ed Sullivan. Kim McAfee (Ann-Margret) é a ganhadora e toda a comitiva de Conrad se dirige até a pequena cidade—para desgosto do sempre irritado pai da garota (Paul Lynde) e do ciumento namorado (o cantor Bobby Rydell) O resultado é o caos e uma série hilariante de complicações românticas.

Comentário: O filme tem seus acertos e seus erros, talvez tenha envelhecido um pouco mal, mas no geral é regular. O personagem de Birdie é uma clara paródia ao Rei do Rock, as adolescentes eufóricas, as roupas, a canastrice, as reboladas, até as alfinetadas do Frank Sinatra aparecem no filme, tudo remete para o Elvis Presley na minha opinião. O relacionamento entre os personagens de Van Dyke e Janet Leigh é a melhor parte do filme, as cenas musicais variam bastante, tem boas sequências e outras bem toscas. Um filme divertido, mas que merece um ponto a mais só por ter a Ann-Margret dançando com aquela roupa cor de rosa, o diretor soube aproveitar a beleza dela em cada enquadramento (Lembrei da Jennifer Lawrence dançando com aquela calça branca em O Lado Bom da Vida). Apaixonante! Será que só eu achei que a obsessão com a mãe do personagem de Dick Van Dyke era uma homenagem a própria Janet Leigh, parodiando o Norman Bates de Psicose?

quarta-feira, 16 de setembro de 2015

VIDAS SECAS

Título Original: Vidas Secas
Diretor: Nelson Pereira dos Santos
Ano: 1963
País de Origem: Brasil
Duração: 100min

Sinopse: Baseado na obra de Graciliano Ramos, mostra a saga da família retirante pressionada pela seca no sertão brasileiro. Fabiano, Sinhá Vitória, o filho mais velho e o mais novo, além da cachorra Baleia, atravessam o sertão tentando sobreviver.

Comentário: A direção de Nelson Pereira dos Santos é simplesmente maravilhosa, impressiona muito, mas o filme tem seus altos e baixos. Não pude deixar de comparar com o filme A Ilha Nua de Kaneto Shindō lançado dois anos antes, o filme japonês parece ser irmão deste brasileiro, mas superior exatamente por ser mais contemplativo e menos interativo. O filme podia ter bem menos diálogos, como no livro, e os diálogos que tem parecem não convencer muito bem, tem horas que os atores trabalham muito bem sim, ao final do filme podemos ver que o ator Átila Iório é um puta ator, mas me parece que em outras cenas faltou um pulso firme da direção cobrando melhores interpretações, mas isto é o de menos. Podemos ver aqui o cinema brasileiro não devendo em nada para o cinema de vanguarda europeu. Interessante lembrar que neste ano de 1963 o Brasil estava em alvoroço sobre as ideias de reforma agrária discutidas pelo presidente João Goulart, assunto este que foi determinante para o golpe que viria no ano seguinte.