sábado, 24 de dezembro de 2016

MINHA ESPERANÇA É VOCÊ


Título Original: A Child is Waiting
Diretor: John Cassavetes
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 100min

Sinopse: Em uma escola para crianças excepcionais, uma professora novata e inexperiente (Judy Garland) entra em conflito com o diretor da instituição (Burt Lancaster), por causa de seu modo de educar um menino autista recém-abandonado pela família. Comovente denúncia do preconceito de grande parte da sociedade para com os portadores de deficiência mental, um drama que continua bastante atual.

Comentários: As pessoas falavam do Cassavetes, depois de assistir A Canção da Esperança não entendia porque, mas estava esperando que ele me surpreendesse mais pra frente, na sua fase menos comercial. Porém este filme já foi a surpresa que estava esperando, filme incrível, maravilhoso, emocionante e mais tudo de bom. Tendo o Stanley Kramer como produtor (diretor este que adoro) já esperava algo bom, mas não tão bom assim. A cena inicial é uma injeção de adrenalina direto no peito, Judy está ótima e o Burt eu sou sempre suspeito pra falar. Sem entrar no mérito do tratamento das crianças, que pode ser um pouco datado, mas não sou psicólogo, mas o filme se segura muito bem, sem cair no melodramático. No fim você não sabe quem é a esperança de quem, quem é que está ajudando quem, quem é o mais fodido mentalmente: um garoto autista que não entende o mundo ou uma mente sã que entende este mundo tão assustador? Vale muito! Dedico esta última postagem do ano a minha tia Míriam Elena que dedicou sua vida a essas crianças maravilhosas. 


NÃO ULTRAPASSE

Título Original: Dobro Pozhalovat, ili Postoronnim Vkhod Vospreshchen
Diretor: Elem Klimov
Ano: 1964
País de Origem: Rússia
Duração: 73min

Sinopse: A obra conta-nos a história de um acampamento de Verão, governado pela mão autoritária do seu diretor, interpretado por Evgeni Evstigneev. Obsequioso em relação à autoridade, resistente à inovação, hostil a qualquer ideia de independência, contudo trivial.

Comentário: Primeiro filme de Elem Klimov, daqueles filmes que trazem a infância de volta, que é leve, mas ao mesmo tempo trás uma bagagem reflexiva enorme. O filme pode ser visto como uma crítica ao regime socialista se pegarmos a figura do diretor (autoritário, inflexivo a novas ideias, punitivo, disciplinado), mas pode ser visto também como um elogio ao regime socialista na figura de Kostya Inochkin, um garoto que se recusa a aceitar sua expulsão do acampamento e que usa da união dos colegas (o povo a favor do povo) para sobreviver como um clandestino, a união das pessoas em prol de uma que precisa de ajuda. Enfim... mas deixando a política de lado, vamos a leveza do filme, onde crianças são crianças e se comportam como crianças. A direção de Klimov já é fantástica aqui. Vale muito a pena ver.


segunda-feira, 21 de novembro de 2016

JURAMENTO DE OBEDIÊNCIA

Título Original: Bushidô Zankoku Monogatari
Diretor: Tadashi Imai
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 122min

Sinopse: O jovem japonês Iikura encontra os diários dos seus antepassados, descobre que é descendente de uma antiga linhagem de samurais e que todos tiveram fins trágicos. Iikura reflete sobre o passado de sua família e o confronta com o seu presente através da lembrança dessas leituras.

Comentário: Um filme interessante, poucos conseguiram me deixar tão irritado e puto quanto este. Nunca havia notado, mas os samurais são os pobres de direita, os coxinhas, os imbecis que mantém um sistema intacto. Tantos filmes idolatram tanto os samurais, colocando-os em um patamar de honra e heroísmo e este é excelente pelo oposto, mostra o quão idiotas eles eram, o quão lambedores de sacos dos imperadores ou chefes dos clãs eles eram. Filme obrigatório pra ir contra o sistema, servindo como critica ao capitalismo e aos endinheirados de hoje, se mantendo absurdamente recente para os dias de hoje. Vencedor do Urso de Ouro do Festival de Berlim de 1963, quando o filme terminou não dei nota 10, tinha dado menos, conforme os dias foram passando a nota foi aumentando e o que o diretor quis passar foi se enraizando no meu cérebro.


O MUNDO DE SUZIE WONG

Título Original: The World Of Suzie Wong
Diretor: Richard Quine
Ano: 1960
País de Origem: EUA
Duração: 126min

Sinopse: Um americano cansado de sua vida executiva tenta ser pintor em Hong Kong, onde contrata uma jovem prostituta como modelo, por quem eventualmente se apaixona.

Comentário: Das comédias românticas que eu já assisti, acho que esta (se não a melhor) é uma das melhores de todas. William Holden e Nancy Kwan estão perfeitos em seus papéis e rola uma química ótima entre os dois. O filme, por mais que pareça um filme bobinho, serve como uma discussão ótima sobre a moralidade, sobre preconceito e um monte de outras coisas, quem dera as comédias românticas conseguissem metade de profundidade hoje em dia que este filme conseguiu há mais de cinquenta anos atrás. Uma Linda Mulher é fichinha. O diretor conseguiu fazer duas pérolas no mesmo ano, este e O Nono Mandamento são filmes excelentes.


quarta-feira, 16 de novembro de 2016

A CARREIRA DE SUZANNE

Título Original: La Carrière de Suzanne
Diretor: Eric Rohmer
Ano: 1963
País de Origem: França
Duração: 55min

Sinopse: Bertrand (Philippe Beuzen) e Guillaume (Christian Charrière) são universitários em Paris. Guillaume se aproveita de Suzanne (Catherine Sée), uma jovem inocente, o que faz com que Bertrand despreze ambos: ele por se aproveitar, ela por se deixar enganar. Bertrand começa a desconfiar que Suzanne está interessada nele, mas ele sente-se atraído por Sophie (Diane Wilkinson), que não lhe dá a menor atenção.

Comentários: Segundo filme de uma série de seis em que o diretor intitulou como Seis Contos Morais. Preferi o primeiro filme (A Padeira do Bairro), porém este é bem mais complexo e mais trabalhado o que deixa injusto uma comparação. O personagem principal é um imbecil, o amigo dele é um escroto e Suzanne é uma idiota. A direção é ótima e o ritmo do filme é excelente até certo ponto, o final ficou a desejar, já que rola um anticlímax. Os atores trabalham super bem, mesmo que em todo o filme eu odiei todos eles, mas acho que era essa a intenção. Esperava mais do final, meio que decepcionou, deu mil voltas pra não se chegar a lugar nenhum, foi pelo menos esse o sentimento que ficou, mas os valores morais que estão no filme martelam na sua cabeça muito tempo depois de ter assistido.


O REI DOS FACÍNORAS

Título Original: The Rise and Fall of 'Legs' Diamond
Diretor: Budd Boetticher
Ano: 1960
País de Origem: EUA
Duração: 101min

Sinopse: A ascensão e queda do gângster Jack 'Legs' Diamond (Ray Danton), que tornou-se um dos criminosos mais temidos dos EUA nos anos 1920. Jogador, sedutor e violento, irá fazer de tudo para se tornar o chefão do crime organizado em New York.

Comentários: Um ótimo filme de gangsters bem no estilo alá Scorsese, uma pena ser tão desconhecido. Budd Boetticher, mais conhecido por filmes de faroestes, conseguiu fazer um excelente filme fora da sua zona de conforto. Legs Diamond foi um dos notórios chefões do crime organizado na época de Al Capone. O filme não é super fiel aos fatos reais, como todo filme baseado em fatos reais, mas consegue capturar muito bem vários momentos importantes da biografia de Diamond, sua morte permanece um mistério até hoje, diferente de como o filme tenta tratar. O elenco atua muito bem e o filme te prente do começo ao fim. Um filme do mesmo ano de Cavalgada Trágica do diretor, mas infinitamente superior.


sexta-feira, 11 de novembro de 2016

JOE LIMONADA

Título Original: Limonádový Joe Aneb Konská Opera
Diretor: Oldrich Lipský
Ano: 1964
País de Origem: Checoslováquia
Duração: 95min

Sinopse: Escandalosa paródia dos faroestes clássicos de Hollywood, a comédia musical do diretor checo Oldrich Lipsky vale-se de seus trabalhos anteriores em animação para avacalhar e exagerar o "grande gênero" do cinema americano. Passada em Stetson City, a história começa com uma balbúrdia generallizada no Whisky Trigger Saloon (Bar Gatilho de Prata), de onde o malévolo Doug Badman controla a cidade e onde a cantora Tornado Lou sonha com um amor redentor. O ataviado Joe Limonada irrompe na cidade, trazendo a lei e a ordem - e a limonada Kolaloka - e salvando a virginal Winifred Goodman das garras do terrível Hogo Fogo.

Comentários: É um filme divertido, mas o Joe Limonada pra mim é o personagem mais capitalista já criado em um filme, que filho da puta, torci um pouco pra ele se dar mal! Entretêm muito bem e serve como uma homenagem a vários tipos de filmes (mudo, musical, faroeste, etc...). No final tudo fica meio sem pé nem cabeça, um pouco forçado demais, achei um pouco desnecessário. Mas todos trabalham muito bem, inclusive com uma atuação meia canastra proposital, tirando sarro mesmo de alguns clichês de filmes do gênero. Vale a assistida, é divertimento na certa. A direção é perfeita, tecnicamente é um filme que todo estudante de cinema deveria assistir.


ENTRE LAGARTOS

Título Original: Eén Hagedis Teveel
Diretor: Paul Verhoeven
Ano: 1960
País de Origem: Holanda
Duração: 31min

Sinopse: A bela Janine, apesar de paquerada por um colega, não consegue deixar de se sentir atraída pelo misterioso escultor que a toma por modelo. Nas mãos do artista, ela sente sua verdade ser reconhecida, sua face ser revelada enquanto atravessa uma transformação inexplicável. Mas para que uma criação ocorra, algo precisa ser destruído.

Comentários: Primeiro filme (média metragem) do diretor Paul Verhoeven, conhecido por filmes mais comerciais como Robocop ou Instinto Selvagem. Aqui podemos ver o controle impressionante que ele já demonstrava do cinema. O filme tem atores mais ou menos, mas que crescem nas tomadas do diretor. A parte em que Janine relata sua relação com o escultor é a melhor de todas e impressiona, é poesia pura, é aquilo que o cinema tem de melhor. Reflexivo e difícil, mas um ótimo começo para um diretor que iria voar alto (e algumas vezes baixo).


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

FARSA TRÁGICA

Título Original: The Comedy of Terrors
Diretor: Jacques Tourneur
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 83min

Sinopse: Waldo Trumbull (Vincent Price) é proprietário de uma funerária de poucos clientes. Ele é casado com Amaryllis (Joyce Jameson), que é frustrada por não conseguir ser cantora de ópera. O estranho assiste da funerária (Peter Lorre) é apaixonado por Amaryllis e um fugitivo ladrão de bancos. Trumbull precisa de dinheiro para pagar aluguel, então passa a matar pessoas a fim de conseguir clientes.

Comentário: O filme é uma comédia de humor negro bem no estilo em que Vincent Price está habituado. O trio Price, Lorre e Karloff, do filme O Corvo dirigido por Roger Corman, se repete neste e consegue manter o nível, mesmo achando o filme do Corman um pouco melhor (acho que por causa daquele combate de magia entre Price e Karloff). Boris Karloff podia ter tido um pouco mais de espaço no filme, que tem elementos shakespearianos a todo momento. Peter Lorre e Joyce Jameson são uma espécie de Romeu e Julieta bizarro, Boris Karloff é o Rei Lear maluco e negligenciado, Vincent Price e Basil Rathbone vivem uma espécie de MacBeth e Macduff como é comentado a todo momento em citações. O final é o que tem de melhor no filme. Diversão mais que garantida.


O CANTOR E A BAILARINA

Título Original: O Cantor e a Bailarina
Diretor: Armando de Miranda
Ano: 1960
País de Origem: Portugal
Duração: 93min

Sinopse: O cantor português Luís Vidal desembarca no Rio de Janeiro, interessando-se por uma linda rapariga. Fotografa-a, mas apenas se distinguem as pernas da jovem, que Luís incumbe seu secretário, Camilo Pampanini, de 'identificar' na cidade... Trata-se da bailarina Natália Derval, com quem Luís vive um romance. Luís convence-a a ilustrar com bailados as suas canções, o que não agrada a Camilo, elaborando um plano de agitadas consequências.

Comentário: O filme é uma produção portuguesa, mas realizado no Brasil. Imaginem o Luciano Huck se apaixonando pela Angélica nos anos 60, é mais ou menos isso. Situações clichês, um romance bem água com açúcar que chega a parecer trama mal elaborada de novela Global. A única coisa que realmente salva o filme é a participação do Otelo Zeloni, conhecido por interpretar Pepino na saudosa Família Trapo. Tirando ele e suas situações cômicas o filme é bem meia boca. A beleza de Nancy Rinaldi é espontânea, convence, mas devia ser alguma bailarina profissional, pois não achei mais nenhuma participação dela em filmes (mas como atriz trabalhava bem ruim também).


segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O DEMÔNIO

Título Original: Il Demonio
Diretor: Brunello Rondi
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 94min

Sinopse: Depois de ser rejeitada pelo ex-amante, que vai se casar com outra, jovem mulher apela para rituais de magia com o objetivo de reconquistá-lo ou destruí-lo. Os habitantes da pequena cidade, no interior da Itália, começam a hostilizar a jovem acusando-a de bruxaria. A obsessão da jovem, porém, não tem limites obrigando a Igreja a intervir no caso que passa a ser considerado "possessão demoníaca". Novos fatos se sucedem agravando ainda mais a relação da jovem com a população local e com o ex-amante, culminando em uma tragédia.

Comentário: Pro Dia das Bruxas não passar em branco. Primeiramente vou falar os pontos positivos, que não são poucos, este filme serviu de referência pro cultuado O Exorcista, tem inclusive uma cena em que a atriz anda de quatro invertida. Falando na atriz, Daliah Lavi está espetacular, dava qualquer prêmio de atuação pra ela neste filme, dá pra perceber como ela se entregou ao papel. Há cenas maravilhosas, mas o filme tem um grande contra. Tratar ele como um filme "baseado em fatos reais" e citar inclusive documentos atestando a "veracidade" dos fatos foi um ato de extrema irresponsabilidade e beira até o ridículo. Quem atestou isto? Aqueles caipiras ignorantes? Não vi em nenhum momento uma mulher possuída, mas sim uma mulher abusada e torturada de várias formas psicológicas. O filme deveria trazer este tipo de discussão e não simplesmente tentar passar a mão na cabeça da igreja e tentar justificar as mulheres queimadas em fogueiras na Idade das Trevas. O filme poderia muito bem tratar sobre o sobrenatural, mas que tirassem aquela besteirada de "Baseado em Fatos Reais". Tirando isso, sem levar a sério o caso de "possessão demoníaca", o filme é ótimo e trás uma excelente discussão.


O GRANDE MOTIM

Título Original: Mutiny on the Bounty
Diretor: Lewis Milestone
Ano: 1962
País de Origem: EUA
Duração: 185min

Sinopse: Em 1787 o Bounty deixa Portsmouth com destino ao Taiti, para trazer o maior carregamento possível de fruta-pão. O capitão do navio (Trevor Howard) fica de tal forma obcecado em cumprir sua missão que, em virtude dos seus métodos extremamente rígidos, provoca um forte descontentamento na sua tripulação, o que acaba resultado em um motim.

Comentário: Um filme grandioso, com mais de três horas de duração, mas que confesso que não me pareceu tão grande, fiquei bastante entretido e passou até que rápido. Este filme é um remake do filme de mesmo nome do ano de 1935, teve ainda uma outra versão chamada por aqui de Rebelião em Alto Mar em 1984 com Anthony Hopkins e Mel Gibson, mas só assisti esta até agora. O filme também tem algumas cenas que foram dirigidas pelo legendário Carol Reed que não foi creditado. Sempre quis ver o Marlon Brando em um filme com o Richard Harris, já que considero os dois muito parecidos em suas atuações, donos de um enorme talento, mas o Harris fica meio em segundo plano, não dando pra ter um embate de interpretações entre ambos. As interpretações são ótimas, a direção é de encher os olhos e a história tem altos e baixos, mas mais altos que baixos. Brando voltando a atuar muito bem depois de alguns filmes que considero em que estava meio apático, é ele a alma do filme, mesmo Trevor Howard estando ótimo também. Um filme onde o clima de tensão só vai aumentando com um cenário maravilhoso.


segunda-feira, 24 de outubro de 2016

LADY MACBETH SIBERIANA

Título Original: Sibirska Ledi Magbet
Diretor: Andrzej Wajda
Ano: 1962
País de Origem: Iugoslávia
Duração: 88min

Sinopse: No que pode ser chamado de noir Russo-Shakespeariano, um caso de adultério de uma mulher com um andarilho põe em movimento uma reação em cadeia de assassinatos e mentiras em um remoto vilarejo na Mtsensk do século 19.

Comentário: Com a recente morte do diretor Wajda, fiz questão de postar mais um filme dele por aqui. Este é um filme mais simples, porém bem intenso e com cenas incrivelmente bem dirigidas (citar a cena deles correndo na carroça ou dela lavando a escada só pra ficar em dois exemplos). Com várias referências Shakespearianas e com um elenco que se entrega muito bem ao papel, Wajda consegue nos brindar com outro filme muito bom, de produção iugoslava, fora de sua Polônia, não parece se intimidar em cutucar e provocar o telespectador, coisa que adorava fazer. Aquele típico filme que o personagem vai fazendo tanta cagada que uma hora você sabe que vai dar merda, roí todas as minhas unhas. Pode ser um filme bem menor do Wajda, se compararmos com sua filmografia, mas pra quem é fã acaba se tornando obrigatório também. Descanse em paz velho mestre.


UMA SAUDADE EM CADA ALMA

Título Original: Conspiracy of Hearts
Diretor: Ralph Thomas
Ano: 1960
País de Origem: Inglaterra
Duração: 113min

Sinopse: Freiras italianas na 2ª guerra mundial, durante a ocupação nazista, ajudam à contrabandear crianças judias através do convento para fora de um campo de concentração próximo. O oficial do exército italiano no comando suspeita do que pode estar acontecendo, mas deliberadamente faz vista grossa. Quando os alemães assumem a segurança do acampamento, as atividades das freiras tornam-se muito mais perigosas.

Comentários: O filme parece ser baseado em uma história real, mas pesquisando pela web descobri que não é, então achei bem interessante este clima que o diretor consegue captar de algo como "É, isto poderia ter acontecido!". Como italiano que sou, a primeira coisa que pensei foi "Este alemão idiota vai realmente achar que algum italiano vai se revoltar com uma freira? Sério mesmo?". O filme é muito bem feito, apesar de achar que no final fica um pouco embolado demais, mas no geral nos conduz muito bem durante todo o filme, o realismo que já comentei é bem impressionante. Parece ser um filme leve, e em algumas partes realmente é, mas ele vem com algumas voadoras surpreendentes quando não esperamos. Não é um filme indispensável, mas é um filme de qualidade que merece ser visto.


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

LANTERNAS VERMELHAS

Título Original: Ta Kokkina Fanaria
Diretor: Vasilis Georgiadis
Ano: 1963
País de Origem: Grécia
Duração: 130min

Sinopse: A história de várias prostitutas, seu dia a dia, pequenas alegrias, tragédias, amores e desilusões, vivendo sob o iminente perigo de que o governo grego decida fechar todos os bordeis, no porto de Pireu.

Comentários: O filme lembra um pouco o Adua e Suas Companheiras do realismo italiano, mas este se desenvolve um pouco melhor, que apesar de ter os seus dramalhões, consegue se controlar um pouco melhor que sua contraparte italiana. O elenco é ótimo, todas as garotas conseguem cativar o telespectador. A que eu estava mais torcendo é a que teve o final que menos gostei, talvez por isto o filme não tenha uma nota maior. A música composta por Stavros Xarhakos é maravilhosa e uma das melhores coisas do filme. Direção competente e um filme que passa voando, uma ótima reflexão para percebermos que por trás de cada ser humano reside um poço infinito de histórias e sentimentos.


O INTRUSO

Título Original: The Intruder
Diretor: Roger Corman
Ano: 1962
País de Origem: EUA
Duração: 82min

Sinopse: A história retrata as maquinações de um racista chamado Adam Cramer (interpretado por William Shatner), que chega na pequena cidade fictícia do sul de Caxton, a fim de incitar a violência racial de moradores contra a minoria negra da cidade.

Comentários: Um ponto fora na curva da filmografia de Roger Corman, mas um tiro direto no alvo, talvez o melhor filme de toda a sua filmografia. O filme assusta pelo infeliz fato de continuar sendo atual, mostrando que o ser humano continua tão pequeno e ridículo como há mais de cinquenta anos atrás. William Shatner em um papel anterior ao Capitão Kirk, de Jornada nas Estrelas, demonstra talento, e consegue surpreender em um filme que coloca como protagonista o vilão que serve de espelho pro que há de pior na humanidade. Adoro os filmes do Corman, mas depois de ver este, penso que gostaria de ver ele saindo mais da sua zona de conforto e se arriscando mais em filmes como este.


terça-feira, 30 de agosto de 2016

17 NINJAS

Título Original: Jushichinin no Ninja
Diretor: Yasuto Hasegawa
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 98min

Sinopse: Um dos maiores Shoguns da história do Japão, Tokugawa Hidetada, está prestes a falecer e só tem 20 dias de vida. Seu filho Tokugawa Tadanaga faz um pacto com a maioria dos Daimyo de Edo no sentido de evitar que seu irmão Tokugawa Iemitsu se torne o terceiro Shogun. No entanto ele não contava com 17 ninjas Igas sobreviventes da batalha de Osaka e que agora prestam serviço ao Shogunato.

Comentários: É um filme legal, que acaba engrenando mais da metade para o final. O começo é meio esquisito, umas baixas já nos primeiros minutos deixa você meio sem saber o que esperar do filme. O negócio começa a pegar mesmo na metade. A história é bem feita e o filme consegue cumprir bem seu papel, a trilha sonora é boa e a direção também é competente. Umas interpretações meio forçadas, mas que é típica desses filmes, principalmente do ninja malvadão interpretado por Jûshirô Konoe. O filme teve uma sequência em 1965 (17 ninjas 2: A Grande Batalha) com alguns atores voltando aos seus papéis, mas com um diretor diferente.


GANGA ZUMBA

Título Original: Ganga Zumba
Diretor: Cacá Diegues
Ano: 1963
País de Origem: Brasil
Duração: 102min

Sinopse: No início do século XVI, alguns negros fugiram dos senhores portugueses e fundaram aldeias negras, como o Quilombo dos Palmares, o mais famoso. Ganga Zumba, neto do Rei dos Palmares, Zumbi, nasceu na senzala e vai tomando contato com a história das lutas e dos problemas de seu povo, ao fugir do cativeiro e tornar-se líder do Quilombo dos Palmares.

Comentário: Bem, o filme tem seus altos e baixos. Algumas cenas de Cacá Diegues são perfeitas, maestria total na direção. Há muitos erros históricos, já que Ganga Zumba antecedeu Zumbi dos Palmares, mas aqui Zumbi já é famoso e está velho enquanto Ganga Zumba ainda se encontra na fuga da senzala. Eliezer Gomes rouba as cenas em que aparece como o conselheiro Anoroba. Luiza Maranhão não tem destaque nenhum como Dandara e o filme se foca em apenas Ganga Zumba ainda novo fugindo para a liberdade. Antonio Pitanga está convincente, mas merecia ter mais destaque ao longo do filme, parece que está mais encanado em se envolver com rabos de saias do que com tudo o que está acontecendo ao seu redor. A cena final é maravilhosa e o filme tem seus momentos, mas no geral poderia ser muito melhor. Participação mais que especial do Cartola.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

NOS DOMÍNIOS DO TERROR

Título Original: Twice-Told Tales
Diretor: Sidney Salkow
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 119min

Sinopse: Três histórias de terror baseadas nos escritos de Nathaniel Hawthorne. Na primeira história intitulada "A Experiência do Dr. Heidegger", Heidegger tenta restaurar a juventude de três amigos idosos. Em "A Filha de Rappaccini", Vincent Price interpreta um pai demente inoculando sua filha com veneno para que ela nunca saia de seu jardim de plantas venenosas. Na história final "A Casa das Sete Torres", a família Pyncheon sofre de uma maldição centenária e enquanto negociam sobre a herança, o irmão Pyncheon tenta escapar de sua sina.

Comentários: O filme começa com a melhor história, "A Experiência do Dr. Heidegger" é tudo o que estas histórias precisam ter, reviravoltas, ótimos diálogos, elementos fantásticos, enfim, prende muito bem. Em "A Filha de Rappaccini" pude voltar a ver a belíssima Joyce Taylor (que já havia comentado sobre na resenha de Atlântida - O Continente Perdido) que está ainda mais bela aqui. A história também é muito boa, Vincent Price assume um papel mais de coadjuvante aqui, deixando o casal jovem no protagonismo sem perder a pose. "A Casa das Sete Torres" é a história com mais clichês, mas eles funcionam muito bem para a história. O filme não fica devendo em nada para clássicos de Roger Corman ou William Castle, tudo funciona muito bem e Vincent Price está cada vez mais conquistando meu coração, é ótimo vê-lo em qualquer papel.




MINHA ESPOSA É UM SUCESSO

Título Original: Il Successo
Diretor: Mauro Morassi
Ano: 1963
País de Origem: Itália
Duração: 100min

Sinopse: Este filme conta a história de um homem casado de 38 anos que está vivendo o "boom" dos anos 60. Quando muitas pessoas na sua idade já estavam fazendo fortuna e vivendo nos mais altos padrões ele permanecia como assalariado de uma empresa imobiliária. Sua frustração continua crescendo desesperadamente na busca por algum dinheiro. Qual o preço que se paga para obtenção do sucesso financeiro? Vale a pena?

Comentário: O filme tem uma mensagem ótima, mas o seu desenrolar é massante, fica martelando sempre na mesma tecla e Gassman está meio que forçado demais no papel. Acho que o ritmo teria sido melhor se Dino Risi (que não sei porque está como não creditado por este filme no IMDB) tivesse sido o diretor, mas por algum motivo ele abandonou o projeto ou foi chamado pra tentar ajudar em algo. O título em português é patético, já que Anouk Aimée quase não aparece no filme, tudo bem que ela é um sucesso, qualquer um sabe disso, mas ficou meio estranho esse título traduzido. Trintignant estava indo bem no papel do amigo, mas parece que depois de um tempo foi deixado de lado. Tirando a mensagem final, algumas partes muito boas como a do personagem de Gassman com o amigo que dá golpes e alguns diálogos muito bons, o filme fica no regular. Nada demais, nada de menos.


terça-feira, 5 de julho de 2016

O RIO DA CORUJA

Título Original: La Rivière du Hibou
Diretor: Robert Enrico
Ano: 1962
País de Origem: França
Duração: 26min

Sinopse: Durante a Guerra Civil, homem está prestes a ser enforcado. Mas quando a plataforma está para derrubá-lo e quebrar seu pescoço, milagrosamente ele consegue escapar são e salvo para ter a chance de tentar continuar vivo.

Comentário: O média metragem (para os padrões brasileiros) é de uma maestria excelente, a direção de Robert Enrico é o que realmente chama a atenção aqui, a câmera parece dançar em alguns momentos, e o clima tenso da luta pela sobrevivência é pego de uma maneira que beira ao perfeccionismo. A duração curta é uma faca de dois gumes, acho que dava pra aproveitar mais uns vinte minutos fácil pra brincar com a história, principalmente pra contar de uma maneira até que superficial quem é o personagem central, mas funciona bem talvez exatamente porque não sabemos nada sobre ele. O final é excelente. Um "filme" que deveria sem sombra de dúvidas ser mais conhecido.


O AVENTUREIRO DO PACÍFICO

Título Original: Donovan's Reef
Diretor: John Ford
Ano: 1963
País de Origem: EUA
Duração: 104min

Sinopse: Na ilha polinésia de Haleakoloha vivem três veteranos da Segunda Guerra: Guns Donovan (John Wayne), Boats Gilhooley e o médico William Dedham, viuvo da princesa da ilha e com quem teve três filhos. Guns é dono de um bar, o Donovan's Reef, espécie de ponto de encontro para o trio. Certo dia descobrem que Amelia, filha do primeiro casamento de Dedham, está a caminho da ilha. Amelia, que nunca viu o pai, viaja com a intenção de impedi-lo de herdar uma fortuna familiar. Como primeira providência, Guns adota temporariamente as crianças mestiças do amigo. Baseado num conto de Edmund Beloin.

Comentário: Quem acompanha o Blog sabe que sou fã do Ford e do Wayne, quando se juntam é impossível sair algo ruim, mas este é um dos mais fracos de toda a parceria da dupla, porém não deixa de ser um dos mais divertidos. A direção de John Ford é sempre excelente e é desnecessário ficar jogando confete, a atuação do John Wayne é sempre competente e aqui não deixa de sair do esteriótipo que construiu para si ao longo de sua carreira. Achei que o papel de Lee Marvin poderia ser muito melhor aproveitado, mas serve só pra manter umas pancadarias no filme. Cesar Romero (O eterno Coringa) está ótimo no filme, consegue roubar algumas cenas. O filme diverte, está longe de ser uma obra prima, mas cumpre seu papel muito bem, envolve o telespectador muito bem também. Ótima pedida pra quem quiser assistir um filme leve por puro entretenimento.

quarta-feira, 15 de junho de 2016

A VINGANÇA DO ATOR

Título Original: Yukinojo Henge
Diretor: Kon Ichikawa
Ano: 1963
País de Origem: Japão
Duração: 108min

Sinopse: Em uma excursão com seu grupo de teatro kabuki, Yukinojo, ator principal da trupe, acaba cruzando com os três homens que levaram seus pais ao suicídio, 20 anos antes. Yukinojo então trama sua vingança, primeiro seduzindo a filha de um deles e depois os levando à ruína. 

Comentário: O filme tem suas qualidades e seus defeitos. A direção é belíssima, acho que o diretor poderia ter explorado mais cenas do teatro kabuki (a cena inicial é maravilhosa). Kazuo Hasegawa merece todos os créditos, interpretando dois papéis (do protagonista Yukinojo e do ladrão Yamitaro), confesso que só percebi que era o mesmo ator depois de um tempo. É o 300º filme do ator que tinha um pouco menos que 60 anos, estreou mais um filme neste mesmo ano e depois se aposentou (aparecendo somente em mais duas produções para a TV em 1964 e 1968 de acordo com o IMDB), faleceu em 1984. Yukinojo seria um dos primeiros (se não O primeiro) personagem transgênero no cinema? Dá uma bela discussão e muito pano pra manga. Achei que em alguns momentos o filme cai no melodrama de maneira muito desnecessária e é isto o que mais atrapalha seu desenrolar. As partes dos ladrões funcionam muito bem e servem de contraponto pra trama central. Ayako Wakao (que interpreta Namiji) está belíssima, acho que é o filme em que ela está mais bonita de todos os que assisti. Gostei bastante do ritmo do filme.


TORMENTOS D'ALMA

Título Original: Pressure Point
Diretor: Hubert Cornfield
Ano: 1962
País de Origem: EUA
Duração: 85min

Sinopse: Num presídio, o chefe de psiquiatria ouve as reclamações de um auxiliar que pensa em desistir do caso de um garoto negro. Ele acha que o chefe, por ser negro, poderá cuidar melhor desse cliente. O chefe então lhe conta sobre um dos seus primeiros pacientes, um prisioneiro seguidor da ideologia nazista, que tem sérios problemas psicológicos por causa da infância problemática. O paciente melhora e as autoridades querem dar a condicional, mas o doutor se nega, pois acha que ele é um homem perigoso.

Comentário: Alguns filmes se estendem demais e criam cenas desnecessárias, em vários comentários aqui eu digo que tal filme tinha que ter 10 minutos a menos ou 20... este peca pelo oposto, o filme podia ter uma meia hora a mais fácil. Sidney Poitier mais uma vez mostrando ser um excelente ator, sem medo de fazer filmes polêmicos, levantando bandeiras em uma época complicada para os negros. Bobby Darin (que já disse ser fã como cantor em vários outros comentários) mostra uma incrível evolução aqui como ator (pra quem viu ele em A Canção da Esperança, passando por Quando Setembro Vier, chegando ao O Inferno é Para os Heróis e finalmente chegando neste aqui, é simplesmente impressionante o salto de desenvolvimento que ele dá no quesito atuação). Um filme forte, que conta com algumas cenas adicionais dirigidas pelo famoso diretor Stanley Kramer (que é produtor do filme), Kramer foi um grande ativista contra o racismo americano, realizado filmes importantíssimos como Acorrentados ou Adivinhe Quem Vem Para Jantar. Achei que algumas coisas foram subaproveitadas no filme, como o papel do sempre maravilhoso Peter Falk. Um filme que vale bastante a pena assistir, mas que podia ter sido melhor se tivessem mais tempo pra desenvolver ainda mais os personagens do Falk e do Poitier. Sempre bom falar abertamente sobre preconceitos e fascismo em um momento tenso como o que vivemos nos dias atuais.


sexta-feira, 10 de junho de 2016

O DESERTO VERMELHO

Título Original: Deserto Rosso
Diretor: Michelangelo Antonioni
Ano: 1964
País de Origem: Itália
Duração: 116min

Sinopse: Chuva, neblina, frio e poluição assolam a cidade industrial de Ravenna, na Itália. Ugo, o gerente de uma usina local, é casado com Giuliana, uma dona de casa que sofre de problemas psicológicos. Um dia, ela conhece o engenheiro Zeller, o que pode mudar sua vida. Em O Deserto Vermelho, Antonioni, no auge de sua forma, aborda os temas centrais de sua filmografia: a incomunicabilidade e a solidão do homem contemporâneo.

Comentário: Antonioni é famoso por sua obra conhecida como a Trilogia da Incomunicabilidade composta pelos filmes: A Aventura, A Noite e O Eclipse. Bem, não entendo porque esse papo de "Trilogia" já que este filme encaixa como uma luva dentro do todo, formando assim uma "Quadrilogia". E digo mais, dentro da "Quadrilogia" O Deserto Vermelho é um dos melhores. Monica Vitti está em um de seus melhores papéis de toda a sua carreira, que deve ter exigido muito dela, está estupenda e competente como nunca. O filme tem um ritmo "Antonioni", devagar, complexo, parece que vai e não vai, mas a profundidade é tão grande que quando caímos tomamos um susto de nos vermos submerso nele. Em determinada cena o pai brinca com o filho e mostra um brinquedo com um giroscópio e explica que é por isso que os navios mantém sua estabilidade e o brinquedo não cai. A personagem é como o brinquedo, mas quebrado, que perdeu seu giroscópio, instável, caindo, perdida... Um baita filme, que deve trazer novas percepções a cada nova assistida.